Óleo espalha-se por mais de 4.000 km ao longo da Costa do Brasil

As primeiras manchas de óleo (petróleo cru) apareceram nas praias do Nordeste do Brasil há mais de 3 meses. Ainda assim, a origem do óleo continua sendo investigada e a dimensão dos impactos é uma incógnita.

Nossos parceiros no Brasil nos ajudaram a compilar as últimas informações e números sobre esse desastre ambiental devastador.

Desde o final de agosto, quando as primeiras manchas de óleo atingiram as praias do nordeste, mais de 4.000 km de costa foram contaminadas por petróleo cru – uma extensão maior do que toda a costa Atlântica dos Estados Unidos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) tem publicado diariamente atualizações no mapa de localidades afetadas. Em 15 de dezembro de 2019, o petróleo cru já havia sido identificado em um total de 959 localidades, distribuídos desde o Maranhão até o estado do Rio de Janeiro. De acordo com declarações oficiais da Marinha brasileira, 5.000 toneladas de óleo já foram recolhidas de localidades afetadas, mas não se sabe quanto óleo ainda está à deriva.

Localidades atingidas por óleo desde 30 agosto 2019 e sua sobreposição com sítios e áreas importantes para aves limícolas. Em função da remoção do óleo e de nova contaminação, o status dessas localidades é atualizado diariamente sendo classificado como “limpo”, com “vestígios” ou “manchas”. Novas localidades atingidas pelo óleo também são adicionadas diariamente. Atualmente existem 441 localidades limpas, 507 com vestígios (menos de 10% de contaminação) e 11 com manchas (mais de 10% de contaminação). Cada localidade representa 1km de extensão. Sítios e áreas importantes para aves limícolas foram identificados pela Iniciativa Pró-Aves Limícolas Migratórias na Rota Atlântica.

Essa área no noroeste do Brasil, que inclui o sítio WHSRN Reentrâncias Maranhenses, é uma das áreas mais importantes para aves limícolas ao longo de toda a costa norte da América do Sul. O óleo foi detectado em várias localidades dentro dessa área, mas o impacto dessa contaminação continua indeterminado pois a área é remota e de difícil acesso.

O ponto mais ao norte no mapa de localidades afetadas pelo óleo encontra-se dentro das Reentrâncias Maranhenses, um sítio WHSRN de Importância Hemisférica no estado do Maranhão. Esse sítio possui mais de 2,68 milhões de hectares de baías, estuários e praias. “O óleo foi detectado em várias localidades dentro do sítio”, comentou Juliana Bosi de Almeida da SAVE Brasil, organização parceira da WHSRN, “mas é um local remoto e de difícil acesso, portanto pouco se sabe sobre os impactos do óleo em um dos sítios mais críticos para aves limícolas ao longo da costa do Brasil”.

Um pouco mais ao sul, na costa do Ceará, “parece que o impacto do derramamento de óleo no Banco dos Cajuais será mínimo”, explica Jason Mobley da organização Aquasis, parceira da WHSRN, referindo-se a um sítio WHSRN de Importância Regional. Nesse sítio, “os resíduos visíveis [de óleo] estão limitados a manchas do tamanho de uma bola de beisebol, e depósitos menores de petróleo cru em algumas praias e bancos de areia. O mais preocupante e difícil de quantificar é o impacto em bivalves, bancos de algas, pesca e outros importantes recursos marinhos”.

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Petróleo cru nas praias do sítio WHSRN Banco dos Cajuais. Foto: Programa de Conservação de Aves Migratórias Aquasis.

Essa contaminação traz grande preocupação para milhões de aves limícolas que passam o inverno [do hemisfério norte] na costa do Brasil, e que foi recentemente comentada por nossos colegas do Programa de Recuperação de Aves Limícolas da Manomet. “Considerando nosso trabalho no Golfo do México depois do derramamento de óleo Deepwater Horizon em 2010, sabemos que mesmo pequenas quantidades de óleo nas penas das aves alteram sua termorregulação e aerodinâmica de voo” escreveu o especialista em aves limícolas Shiloh Schulte. “A ingestão de óleo durante a prática de limpar as penas [com o bico] resulta em um aumento na concentração de hidrocarboneto na corrente sanguínea, provocando uma diminuição do sucesso reprodutivo da ave”.

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Esquerda: Um maçarico-branco (Calidris alba) limpando o óleo das penas com o bico (comportamento chamado “preening”). Foto: Bruno Jackson Melo de Almeida. Direita: Uma batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus) com o ventre sujo de óleo. Foto: Renato Gaban-Lima.

Estamos apenas no início de um trabalho de longo prazo para entender os impactos desse misterioso derramamento de óleo. Os parceiros da WHSRN no Brasil estão trabalhando incansavelmente para dar apoio aos esforços de limpeza de praias e de monitoramento dos impactos nas aves limícolas e seus habitats. O Escritório Executivo da WHSRN continuará publicando atualizações na medida que elas estiverem disponíveis.

Estamos em um momento crítico para as aves limícolas.

Se você quiser apoiar os esforços para diminuir os efeitos do derramamento de óleo nas aves limícolas você pode doar aqui e especificar “Derramamento de óleo no Brasil” na caixa de comentários. A WHSRN irá trabalhar com parceiros locais para que sua doação apoie ações de limpeza e de monitoramento do impacto nas aves limícolas e seus habitats, e ajude a restaurar suas populações.

Foto da capa: Maçaricos-brancos com penas sujas de óleo. Foto: Bruno Jackson Melo de Almeida.