Mais do que Pontos em um Mapa: Os Parceiros explicam por que a WHSRN é importante

Do Canadá à Argentina, os parceiros da Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas explicam o valor da organização e os benefícios da nomeação como sítio WHSRN.

Por: James Lowen

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Ao fazer uma reserva de hospedagem, é improvável que tomemos nossa decisão com base no discurso dos hotéis. Em vez disso, buscamos uma avaliação objetiva através da leitura de resenhas dos hóspedes – a boa, a ruim e a abaixo da média. Da mesma forma, para entender o verdadeiro valor de uma iniciativa de conservação ampla como a Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas (WHSRN), precisamos do ponto de vista daqueles que escolheram ser membros. Mais de 430 parceiros decidiram participar da WHSRN com suas importantes áreas. Mas por quê?

A Rede abrange 14,9 milhões de hectares de habitat de aves limícolas em 18 países, 115 localidades ou paisagens com critérios de importância regional, internacional ou hemisférica estabelecidos pelo Conselho Hemisférico da WHSRN (conjunto de especialistas em aves limícolas das Américas). Mas será que este “título” vale o esforço do processo de nomeação um tanto assustador?

A resposta dos parceiros em uníssono é sim, tem um grande valor para a área. Para simplificar, a nomeação comprova a importância de um lugar para as aves limícolas. E as organizações podem usar isto para garantir a proteção formal pelo governo, envolver as comunidades com a conservação ou então persuadir proprietários a integrar as aves limícolas no planejamento do uso de suas terras. Sobre o Estuário de Fraser, James Casey, da Birds Canada, explica: “O reconhecimento como sítio WHSRN criou heróis locais reconhecidos internacionalmente, ressaltando a importância do estuário para as aves limícolas e influenciando os tomadores de decisão”, acrescenta ele. “O reconhecimento legitima as declarações de que o Estuário de Fraser é uma prioridade internacional – e portanto nacional – de conservação”.

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Esquerda: O atual terminal portuário em Robert’s Bank pode ser visto do outro lado dos lamaçais do sítio WHSRN Estuário do Rio Fraser, Canadá. Foto: Laura Chamberlin. Direita: Equipe MANGLE, PRODUSAL, e Sociedade Audubon da Venezuela contando aves limícolas no sítio WHSRN Salina Solar Los Olivitos. Foto: L. Torres.

Alice Keyes, vice-presidente da organização One Hundred Miles, que atua pela conservação da costa da Geórgia, identifica múltiplos benefícios da nomeação WHSRN para as Ilhas de Barreira da Geórgia (EUA). “Ela nos ajudou a aumentar a conscientização sobre a importância de proteger habitats naturais, a educar a população local e os visitantes sobre o papel internacional que nossa costa desempenha para as aves limícolas migratórias, e a defender leis estaduais mais fortes”. Sandra Giner, da Universidade Central da Venezuela, também destaca as oportunidades de manejo: “O principal benefício do reconhecimento como sítio WHSRN para a Salina Solar Los Olivitos, na Venezuela, está em incentivar o proprietário das terras, a PRODUSAL, a desenvolver um plano de manejo que considere a conservação das aves limícolas”.

A nomeação também abre portas para o financiamento da conservação das aves limícolas. “Ter nossa Reserva Natural Barba Azul declarada como sítio WHSRN por onde passa o maçarico-acanelado (Calidris subruficollis) – e, portanto, um sítio internacionalmente prioritário para a conservação – nos ajudou a receber financiamento”, afirma com entusiasmo Tjalle Boorsma (Armonía). “Por vários anos recebemos apoio do programa Neotropic Migratory Bird Conservation Act, além de fundos específicos para ajudar esta espécie”.

Graças à nomeação como sítio WHSRN, os financiadores e os tomadores de decisão precisam apenas confiar na palavra de um proponente sobre a importância de um local para as aves limícolas. Nenhum local se torna um sítio WHSRN sem provas robustas e imparciais de sua relevância. Isto também ajuda, explica James, quando “a ciência por trás de uma avaliação de impactos de um empreendimento é calorosamente questionada”, como na proposta de expansão de um terminal de contêineres no Robert’s Bank (um trecho crucial do Estuário de Fraser).

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Delegação internacional e organizadores locais em frente ao mural que celebra a parceria entre três lagos salgados – Laguna Mar Chiquita na Argentina, Mono Lake e Great Salt Lake nos Estados Unidos. Foto: Fundación Líderes de Ansenuza.

Embora a nomeação seja importante, ela é apenas um dos componentes de valor da WHSRN. Outro diz respeito à última letra da sigla da organização: Rede (Network). Em uma recente reunião do Grupo de Aves Limícolas do Hemisfério Ocidental (WHSG – sigla em inglês), os participantes deram suas opiniões pessoais sobre a parte mais valiosa de ser um sítio WHSRN. As falas caminharam para uma mesma resposta: a rede de pessoas – conexões, colaboração e coordenação de pessoas. Ryan Carle, da Oikos Ecosystem Knowledge, dos EUA, foi além: “Sem a rede, estaríamos isolados”, disse ele, “mas o apoio, a experiência e o aconselhamento do pessoal da WHSRN têm sido incrível para fazer as coisas acontecerem”.

As oportunidades de aprender com a rica experiência dos parceiros da WHSRN podem ser tanto informais (conversa “de corredor” em eventos) quanto estruturadas (programas de intercâmbio). Estes trabalhos desencadearam o reconhecimento de dez ou mais sítios, e isso acontece porque os sítios WHSRN frequentemente têm valores, objetivos, desafios e espécies em comum – cinco aves limícolas, incluindo o maçarico-galego (Numenius phaeopus) e o Charadrius nivosus. E estas oportunidades são um sucesso porque os parceiros desenvolvem fortes relações que estimulam compartilhamento, capacitação e inspiram novas atividades.

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Esquerda: Parceiros do sítio WHSRN Barba Azul, Bolívia, visitando o sítio WHSRN Laguna Rocha, Uruguai, para aprender a instalar rede de captura de aves limícolas. Foto: Marcia Salvatierra. Direita: Parceiros da Baía de Delaware e Ilhas de Barreira da Geórgia, EUA, visitam a Baía de Fundy, Canadá, para aprender como a Birds Canada está reduzindo perturbações a áreas de descanso de aves limícolas através do programa Space to Roost. Foto: Laura Chamberlin.

Programas de intercâmbio nas rotas de migração do Pacífico e do Atlântico informaram, engajaram e conectaram comunidades em locais-chave para o maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) e para o maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla). Os parceiros da Baía de Fundy, no Canadá, aprenderam com a Baía de Delaware (EUA) como melhorar o Festival de Aves Limícolas de Dorchester, enquanto os da Baía de Delaware e das Ilhas de Barreira da Geórgia (EUA) viajaram para o norte para mapear soluções de comunicação com as pessoas que frequentam os habitats das aves limícolas a lazer. “Para evitar que as pessoas perturbassem as aves limícolas”, Alice Keyes diz, “procuramos em outros sítios WHSRN exemplos de programas educacionais que informam as pessoas sobre os impactos dos banhistas e dos cachorros”.

Parceiros de Baía de Willapa e Grays Harbor (EUA) e da Baía de Todos os Santos (México) viajaram para o delta do Rio Copper, no Alasca (EUA), para aprender melhores práticas no desenvolvimento de oportunidades de turismo sustentável baseado em aves. Isto ajudou Vanessa Loverti (US Fish and Wildlife Service) e seus colegas a “implementar nosso próprio festival das aves, o Wings over Willapa, e torná-lo uma experiência educacional de sucesso”. Grays Harbor e a Baía de Willapa hospedaram então parceiros do Alasca e do México, capacitando pessoas para o monitoramento participativo de aves limícolas. “Sem a WHSRN e as parcerias duradouras abertas pelos intercâmbios, nada disso teria acontecido”, diz Vanessa. “Estamos todos aprendendo uns com os outros, compartilhando nossos sucessos e fracassos”.

“Sem a WHSRN e as parcerias duradouras abertas pelos intercâmbios, nada disso teria acontecido”, diz Vanessa. “Estamos todos aprendendo uns com os outros, compartilhando nossos sucessos e fracassos”

A base parceira da WHSRN inclui alguns dos melhores especialistas de aves limícolas do mundo. O acesso à ciência de ponta sobre as tendências das populações dessas aves, rotas migratórias e conservação são os principais benefícios de fazer parte da Rede. Dentro da WHSRN, a experiência é livremente compartilhada. Tomemos como exemplo o maçarico-acanelado. “Estudos das necessidades ecológicas da espécie a partir dos sítios e pesquisadores da WHSRN”, explica Tjalle, estão ajudando Armonía a administrar a Reserva Barba Azul. “Fazer parte da WHSRN permite o contato direto com os principais especialistas em aves limícolas e facilita a comunicação. Usar o gado para manter o gramado curto ou queimar pequenas áreas de grama alta são práticas que me ajudaram a entender melhor as estratégias para criar um habitat de parada ideal para essas aves”. Na Venezuela, Sandra explica que os conservacionistas estão aplicando de forma semelhante a experiência adquirida com a Asociación Calidris para ajudar os maçaricos-acanelados (Calidris subruficollis) nos Llanos. Tudo isso se soma.

Os parceiros também reforçam a importância do coração pulsante da WHSRN: seu Escritório Executivo. Sediado dentro da Manomet, Inc., o escritório fornece serviços administrativos, técnicos e de divulgação. Isto pode incluir, por exemplo, o engajamento dos tomadores de decisão, captação de recursos, mobilização de stakeholders e capacitação.

Cada parceiro da WHSRN tem suporte deste verdadeiro escritório de especialistas em aves limícolas. Desde 2017, 650 pessoas se beneficiaram de 37 treinamentos, webinários e oficinas, cobrindo tópicos tão diversos quanto a melhoria da governança, fortalecimento do monitoramento, avaliação de serviços ecossistêmicos e envolvimento das comunidades. Em Baía Blanca, na Argentina, Pablo Petracci, da Universidade Nacional do Sul, elogia a contribuição da WHSRN para a boa governança, “trazendo a autoridade de gestão portuária para a mesa de gestão”. Isto resultou em “decisões em conjunto sobre dragagem e intervenção, sempre que possível”. Sandra elogia as oficinas de monitoramento e governança da WHSRN, que “tiveram impactos positivos e fortaleceram o engajamento da comunidade – tanto local quanto nacional”. O aumento de capacitação para monitoramento tem suscitado “informações valiosas sobre espécies pouco conhecidas” na Venezuela, “demonstrando a importância da costa para as aves limícolas migratórias” e culminando no possível reconhecimento de três sítios WHSRN.

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Discussões em grupo e exercícios colaborativos foram chave para o workshop sobre conservação e manejo do sítio WHSRN Humedal del Río Lluta. Foto: Diego Luna Quevedo.

Sim, uma nomeação WHSRN ajuda a reforçar gestão cuidadosa, proteção formal e aumento das propostas de financiamento. Mas por mais importantes que estes benefícios sejam, o que toca mais profundamente os envolvidos na conservação das aves limícolas migratórias é que a WHSRN é muito mais do que um título. Sua Rede tem tudo a ver com parcerias, e parcerias têm tudo a ver com pessoas. E todas essas pessoas são heroínas da conservação, conectando as Américas não só para ajudar as aves limícolas em suas migrações perigosas, mas também para se apoiarem umas às outras.

Foto da capa: Bandeiras dos países que possuem sítios WHSRN durante a cerimônia de dedicação do 100º sítio WHSRN, as Ilhas de Barreira da Geórgia. Foto: Laura Chamberlin.